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domingo, 24 de julho de 2011

Volta Redonda poderá se tornar patrimônio geológico


                                                         Gabriel Borges
Ancestrais: Volta Redonda é uma das duas cidades do Brasil com rochas formadas há 4,5 bilhões de anos


Publicado em 9/7/2011, às 17h55 - Fonte: Diário do Vale
Última atualização em 9/7/2011, às 17h55

Talita Ribeiro
Volta Redonda
A cidade de Volta Redonda possui um patrimônio geológico datado de 4,5 bilhões de anos: trata-se do ankaramito, uma rocha rara encontrada pela prefeitura ao atender a solicitação de moradores que requeriam obras de infraestrutra no bairro Jardim Europa.
O material preservado - além de ser objeto de estudo para conhecimento da história da Terra - apresenta uma particularidade que faz da cidade um território de reconhecimento nacional e até mesmo mundial.
Segundo Débora de Toci, diretora de Meio Ambiente e Mineração do Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ), o patrimônio desconhecido pela maior parte da população tem importância elevada e precisa ser preservado. Conforme explicou, o ankaramito está presente em poucos lugares do mundo. Para se ter uma ideia, no Brasil são conhecidas apenas duas ocorrências do mineral na porção continental: em Volta
Redonda e em Itaboraí.
- A bacia de Volta Redonda constitui - ao lado de outras bacias sedimentares que se distribuem desde a região de Curitiba (PR) até o litoral norte do estado do Rio de Janeiro - uma importante estrutura geológica, conhecida como Rifte Continental do Sudeste do Brasil (RCSB). A degradação ocorreu pela ação do homem e do próprio tempo. Este é um resquício de mais de quatro bilhões de anos que foi conservado na cidade - explicou.
De acordo com a diretora, a especificidade está no fato de que estes são registros geológicos únicos. O principal afloramento de ankaramito em Volta Redonda localiza-se na Rodovia dos Metalúrgicos, no Jardim Tiradentes.
Outros afloramentos - como são denominados a exposição em superfície das rochas - são encontrados na entrada do condomínio Vale da Colina. Um está localizado em um corte na rua de acesso ao condomínio, e outro se situa próximo à praça Carombert
Rocha Faria.
Apesar dos termos técnicos, torna-se fácil a compreensão de que a preservação é necessária para garantir a continuidade de pesquisas, já que pode significar para a cidade o atrativo de ser uma localidade incluída no roteiro de estudiosos e universidades.
- De maneira prática podemos dizer que a história evolutiva da bacia de Volta Redonda relaciona-se com a própria história de formação do sul do Oceano Atlântico e das bacias da margem continental do Sudeste brasileiro, como as bacias de Santos e de Campos - explicou.

Descoberta do patrimônio

A descoberta do patrimônio geológico se deu por acaso, quando os moradores do bairro Jardim Europa solicitaram à prefeitura a realização de obras de melhoria de infraestrutura na praça Santa Rita. Foi neste momento que a comunidade descobriu que o terreno abrigava, na verdade, um importante objeto de estudo para os especialistas em geologia.
Segundo a diretora de Meio Ambiente do DRM-RJ, o mapeamento e indicação de lugares que possuem resquícios de material geológico significativo possui diversos aspectos relevantes, tanto no sentido científico como para a comunidade. Pensando nisto, uma parceria de mais de dez anos entre a prefeitura de Volta Redonda, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o DRM-RJ tem possibilitado o estudo e a implementação de medidas na tentativa de resguardar este patrimônio.
Através do projeto Caminhos Geológicos todas as localidades do estado que possuem monumentos geológicos contendo a história da Terra estão sendo catalogados e incluídos em um programa que visa conscientizar a comunidade.
- Estas rochas são testemunhos da história - disse.

Tombamento e preservação

Os estudos feitos pela equipe do DRM-RJ ratificaram a importância da preservação e por isso, segundo Débora Toci, estão sendo avaliadas com o governo municipal as possibilidades de criar um parque geológico em Volta Redonda e tombar as localidades catalogadas. Ela destacou que o tombamento do patrimônio geológico é uma vertente nova no Brasil, porém já bastante difundida em todo o mundo.
- Semelhante ao procedimento para o tombamento do patrimônio histórico, a iniciativa é um reconhecimento mundial e também nacional que envolve a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Afinal, estas rochas são de interesse da humanidade - afirmou.
Os critérios e metodologias para este processo requerem um cuidado diferenciado. De acordo com a geóloga, são considerados diversos fatores para verificar a viabilidade do projeto sem que haja prejuízos para a população.
- Não é considerado patrimônio toda a extensão de uma cidade, e sim alguns pontos que recebem o cuidado e a identificação de sua importância. Estamos tendo boa receptividade da prefeitura para que Volta Redonda implemente este projeto - disse.

História e economia

Para Débora, a valorização do patrimônio geológico perpassa as questões cientificas e pode trazer desenvolvimento econômico às cidades, principalmente quando se percebe que estas reservas representam mais um atrativo turístico. O dado que indica o incremento deste setor, segundo a diretora, já foi observado em outras cidades onde o projeto atua. A pesquisadora ressaltou que a própria formação geológica - aliada às
falhas tectônicas - seria provavelmente a causa para o contorno do Rio Paraíba do Sul, que possui a curva que originou o nome da cidade.
- A forma como ocorreu a urbanização da cidade está totalmente ligada ao desenho do rio. Estas rochas permitem o estudo e a análise de uma história muito anterior à vinda dos primeiros habitantes, mas que faz parte da nossa realidade - destacou. O fato das rochas aqui encontradas serem raras acaba por transformar a cidade em ponto obrigatório para pesquisadores. Conforme afirmou Débora, o ankaramito é um tipo rochoso de origem vulcânica cuja especificidade deve ser pesquisada e divulgada para o entendimento da evolução do planeta.
- Para o estudo da Terra precisamos ter o contato direto com esta diversidade de materiais. Pedagogicamente, é importante para os alunos e para a realização de pesquisas. Isso será possível pela conservação do que temos - disse.

Projeto Caminhos Geológicos

Segundo a diretora do DRM-RJ, a proposta do Projeto Caminhos Geológicos é garantir ao patrimônio geológico brasileiro o status de bens tombados e preservados a serem transformados em museus ao ar livre, semelhante ao modelo adotado em outros países.
A iniciativa prevê a colocação de painéis e sinalização nas rodovias com a indicação da evolução histórica daquela rocha.
- O território do estado do Rio de Janeiro possui características especiais que o fazem muito rico. Precisamos valorizar este patrimônio para que todos conheçam - destacou. Primeiro sítio geológico incorporado à estrutura urbana
De acordo com a prefeitura de Volta Redonda, a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) iniciou os estudos na década de 1970, sendo retomado 20 anos depois. Pelo menos cinco sítios de importância geológica existem em Volta Redonda, dos quais o afloramento no Vale da Colina integrava a relação de pontos de estudos conhecido pelos alunos da UFRJ.
A praça do bairro é apontada como o primeiro sítio geológico incorporado à estrutura urbana, isso porque a construção foi feita sem que a estrutura rochosa fosse danificada, e a população convive de forma harmoniosa com o patrimônio.

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