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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Luigi/Wikimedia Commons

Em sua grande erupção, há 39 000 anos, Campi Flegrei deixou uma cicatriz de 
13 quilômetros de extensão


 GEOLOGIA

Não acorde o gigante

Cientistas querem perfurar o supervulcão abaixo de Nápoles. Quem garante que isso não causará um desastre?

Alexandre Salvador Revista Veja – 15/12/2010

Um dos pontos turísticos mais visitados do sul da Itália é o Monte Vesúvio, vulcão ativo a menos de 10 quilômetros de Nápoles. Menos conhecido é o gigante adormecido sob o Golfo de Nápoles, cujo potencial de destruição faz o Vesúvio parecer fogos de artifício. Campi Flegrei (campos fumegantes) não é uma formação vulcânica convencional. É o que os especialistas chamam de caldeira ou câmara magmática. Não tem um cone principal, mas concentra enorme quantidade de lava subterrânea em uma área que vai de Nápoles até a paradisíaca Ilha de Capri. Essa cicatriz na costa italiana, com 13 quilômetros de extensão, foi aberta por uma erupção gigantesca ocorrida há 39 000 anos. Na última vez em que o material da caldeira explodiu, em 1538, formou-se uma elevação chamada Monte Nuovo. Atualmente, campos de lama borbulhante e liberação de gases fedorentos, que os turistas visitam, são o lembrete mais visível de que a cidade e seus 4 milhões de habitantes estão instalados sobre um dos mais perigosos vulcões do planeta. Para inquietação dos napolitanos, o gigante dá sinais de estar acordando. Em Pozzuoli, nos arredores da cidade, por exemplo, o solo elevou-se 3 metros nos últimos dez anos, destruindo casas e ruas. Giuseppe de Natale, chefe de pesquisas do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanismo, diz que, "se a caldeira explodir, causará uma catástrofe em escala global, com milhões de mortes e bruscas mudanças climáticas que podem causar uma nova era glacial". Natale é o coordenador do projeto que planeja efetuar uma série de perfurações em Campi Flegrei e seus arredores. O objetivo é estudar o comportamento do magma nas entranhas do vulcão e avaliar o risco de uma erupção próxima. A investigação, que tem o apoio da Fundação Europeia de Ciência, será feita por cientistas de dezoito países, com o custo estimado de 14 milhões de dólares. O início dos trabalhos está previsto para o primeiro semestre de 2011, mas ainda há um impasse: muitos cientistas temem que as perfurações possam precipitar a erupção que todos querem evitar. Os napolitanos naturalmente estão com medo. A prefeita de Nápoles, que chegou a dar seu aval às perfurações, já decidiu repensar sua decisão. Cientistas contrários ao projeto citam uma perfuração em busca de gás natural, responsável por uma erupção vulcânica que desabrigou 30 000 pessoas na Indonésia, em 2006. Natale garante que são situações totalmente diferentes. No caso de Campi Flegrei, ao contrário do que ocorreu na Ásia, a sonda deve parar a 4 quilômetros de profundidade, 2 quilômetros antes de atingir o magma. "Esse não é um projeto pioneiro. Conduzi perfurações similares nos Estados Unidos e no Japão, e não ocorreu nenhum tipo de incidente", disse a VEJA o americano John Eichelberger, coordenador do programa preventivo de vulcões da USGS, agência americana de pesquisa geológica. Ainda assim, ninguém fica tranquilo na hora de cutucar o gigante.

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