Gabriel Borges
Ancestrais: Volta Redonda é uma das duas cidades do Brasil com rochas formadas há 4,5 bilhões de anos |
Publicado em 9/7/2011, às 17h55 - Fonte: Diário do Vale
Última atualização em 9/7/2011, às 17h55
Talita Ribeiro
Volta Redonda
A cidade de Volta Redonda possui um patrimônio geológico datado de 4,5 bilhões de anos: trata-se do ankaramito, uma rocha rara encontrada pela prefeitura ao atender a solicitação de moradores que requeriam obras de infraestrutra no bairro Jardim Europa.
O material preservado - além de ser objeto de estudo para conhecimento da história da Terra - apresenta uma particularidade que faz da cidade um território de reconhecimento nacional e até mesmo mundial.
Segundo Débora de Toci, diretora de Meio Ambiente e Mineração do Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ), o patrimônio desconhecido pela maior parte da população tem importância elevada e precisa ser preservado. Conforme explicou, o ankaramito está presente em poucos lugares do mundo. Para se ter uma ideia, no Brasil são conhecidas apenas duas ocorrências do mineral na porção continental: em Volta
Redonda e em Itaboraí.
- A bacia de Volta Redonda constitui - ao lado de outras bacias sedimentares que se distribuem desde a região de Curitiba (PR) até o litoral norte do estado do Rio de Janeiro - uma importante estrutura geológica, conhecida como Rifte Continental do Sudeste do Brasil (RCSB). A degradação ocorreu pela ação do homem e do próprio tempo. Este é um resquício de mais de quatro bilhões de anos que foi conservado na cidade - explicou.
De acordo com a diretora, a especificidade está no fato de que estes são registros geológicos únicos. O principal afloramento de ankaramito em Volta Redonda localiza-se na Rodovia dos Metalúrgicos, no Jardim Tiradentes.
Outros afloramentos - como são denominados a exposição em superfície das rochas - são encontrados na entrada do condomínio Vale da Colina. Um está localizado em um corte na rua de acesso ao condomínio, e outro se situa próximo à praça Carombert
Rocha Faria.
Apesar dos termos técnicos, torna-se fácil a compreensão de que a preservação é necessária para garantir a continuidade de pesquisas, já que pode significar para a cidade o atrativo de ser uma localidade incluída no roteiro de estudiosos e universidades.
- De maneira prática podemos dizer que a história evolutiva da bacia de Volta Redonda relaciona-se com a própria história de formação do sul do Oceano Atlântico e das bacias da margem continental do Sudeste brasileiro, como as bacias de Santos e de Campos - explicou.
Descoberta do patrimônio
A descoberta do patrimônio geológico se deu por acaso, quando os moradores do bairro Jardim Europa solicitaram à prefeitura a realização de obras de melhoria de infraestrutura na praça Santa Rita. Foi neste momento que a comunidade descobriu que o terreno abrigava, na verdade, um importante objeto de estudo para os especialistas em geologia.
Segundo a diretora de Meio Ambiente do DRM-RJ, o mapeamento e indicação de lugares que possuem resquícios de material geológico significativo possui diversos aspectos relevantes, tanto no sentido científico como para a comunidade. Pensando nisto, uma parceria de mais de dez anos entre a prefeitura de Volta Redonda, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o DRM-RJ tem possibilitado o estudo e a implementação de medidas na tentativa de resguardar este patrimônio.
Através do projeto Caminhos Geológicos todas as localidades do estado que possuem monumentos geológicos contendo a história da Terra estão sendo catalogados e incluídos em um programa que visa conscientizar a comunidade.
- Estas rochas são testemunhos da história - disse.
Tombamento e preservação
Os estudos feitos pela equipe do DRM-RJ ratificaram a importância da preservação e por isso, segundo Débora Toci, estão sendo avaliadas com o governo municipal as possibilidades de criar um parque geológico em Volta Redonda e tombar as localidades catalogadas. Ela destacou que o tombamento do patrimônio geológico é uma vertente nova no Brasil, porém já bastante difundida em todo o mundo.
- Semelhante ao procedimento para o tombamento do patrimônio histórico, a iniciativa é um reconhecimento mundial e também nacional que envolve a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Afinal, estas rochas são de interesse da humanidade - afirmou.
Os critérios e metodologias para este processo requerem um cuidado diferenciado. De acordo com a geóloga, são considerados diversos fatores para verificar a viabilidade do projeto sem que haja prejuízos para a população.
- Não é considerado patrimônio toda a extensão de uma cidade, e sim alguns pontos que recebem o cuidado e a identificação de sua importância. Estamos tendo boa receptividade da prefeitura para que Volta Redonda implemente este projeto - disse.
História e economia
Para Débora, a valorização do patrimônio geológico perpassa as questões cientificas e pode trazer desenvolvimento econômico às cidades, principalmente quando se percebe que estas reservas representam mais um atrativo turístico. O dado que indica o incremento deste setor, segundo a diretora, já foi observado em outras cidades onde o projeto atua. A pesquisadora ressaltou que a própria formação geológica - aliada às
falhas tectônicas - seria provavelmente a causa para o contorno do Rio Paraíba do Sul, que possui a curva que originou o nome da cidade.
- A forma como ocorreu a urbanização da cidade está totalmente ligada ao desenho do rio. Estas rochas permitem o estudo e a análise de uma história muito anterior à vinda dos primeiros habitantes, mas que faz parte da nossa realidade - destacou. O fato das rochas aqui encontradas serem raras acaba por transformar a cidade em ponto obrigatório para pesquisadores. Conforme afirmou Débora, o ankaramito é um tipo rochoso de origem vulcânica cuja especificidade deve ser pesquisada e divulgada para o entendimento da evolução do planeta.
- Para o estudo da Terra precisamos ter o contato direto com esta diversidade de materiais. Pedagogicamente, é importante para os alunos e para a realização de pesquisas. Isso será possível pela conservação do que temos - disse.
Projeto Caminhos Geológicos
Segundo a diretora do DRM-RJ, a proposta do Projeto Caminhos Geológicos é garantir ao patrimônio geológico brasileiro o status de bens tombados e preservados a serem transformados em museus ao ar livre, semelhante ao modelo adotado em outros países.
A iniciativa prevê a colocação de painéis e sinalização nas rodovias com a indicação da evolução histórica daquela rocha.
- O território do estado do Rio de Janeiro possui características especiais que o fazem muito rico. Precisamos valorizar este patrimônio para que todos conheçam - destacou. Primeiro sítio geológico incorporado à estrutura urbana
De acordo com a prefeitura de Volta Redonda, a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) iniciou os estudos na década de 1970, sendo retomado 20 anos depois. Pelo menos cinco sítios de importância geológica existem em Volta Redonda , dos quais o afloramento no Vale da Colina integrava a relação de pontos de estudos conhecido pelos alunos da UFRJ.
A praça do bairro é apontada como o primeiro sítio geológico incorporado à estrutura urbana, isso porque a construção foi feita sem que a estrutura rochosa fosse danificada, e a população convive de forma harmoniosa com o patrimônio.