Fonte:Economia Verde
Enviado por Agostinho Vieira - 06.06.2013 | 18h19m
Coluna publicada no Globo de hoje:
A notícia de que o grupo EBX, do empresário Eike Batista, decidiu acabar com a diretoria de Sustentabilidade não precisava ser necessariamente ruim. Num mundo ideal, uma empresa realmente sustentável do ponto de vista social, ambiental e econômico talvez não precisasse mesmo de uma diretoria com esse nome. Seria um exemplo de gestão. Infelizmente, parece que não foi esse o caso.
Na verdade, quando demitiu os 50 funcionários do setor, Eike estava apenas sendo coerente. Anunciar a medida na Semana do Meio Ambiente talvez não tenha sido inteligente, mas foi coerente. A mesma coerência demonstrada na decisão de não comentar o caso. Esse negócio de transparência só fica bem em quem realmente leva o tema a sério. A praia dele é outra. Trata-se de um homem ousado, polêmico, que sonha em ser o mais rico do mundo. O que é legítimo, mas é diferente.
Há algum tempo, o ex-marido da Luma de Oliveira vem enfrentando o seu pior inferno astral, que inclui desde problemas com a família até a queda acentuada das ações de suas empresas. Ficou famosa a frase do empresário: “Onde eu furo, eu acho”. Hoje, alguns setores do mercado não acreditam mais nas suas apostas e promessas. Nesse contexto, reduzir investimentos e cortar pessoal faz parte da vida. E se uma área não é prioritária, fica mais fácil ainda.
Quem fizer um passeio rápido pelo site da EBX e das demais empresas do grupo verá que a palavra sustentabilidade é repetida dezenas de vezes. Acompanhada de frases como “é parte intrínseca do processo de empreender” ou “buscando ser um exemplo de liderança empresarial responsável”. É tudo mentira? Acredito, honestamente, que não. Há nos exemplos uma vontade de acertar. Mas fica a sensação de que a roupa está apertada demais. E pior, parece que estão na festa errada.
Dois projetos chamam a atenção entre as ações do grupo. O primeiro é conhecido como Gestão Integrada de Território. Parte do conceito de que antes de implantar um empreendimento numa região é preciso discutir com a comunidade os seus impactos e tentar minimizá-los. Envolve contratação de mão-de-obra local, treinamento, investimentos em saúde e saneamento. Antecipa a soluções e cumpre exigências que poderiam ou deveriam ser feitas pelo poder público. Começou no Porto Açu, mas com os problemas na obra nunca chegou a ser totalmente implantada.
O segundo era a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas. Apesar de ser a menina dos olhos de Eike Batista, ela sempre foi muito criticada internamente. Porque não tinha uma relação direta com os negócios da empresa e porque um eventual fracasso arranharia a imagem do grupo. O pior momento foi quando a Cedae fez uma ação de marketing dizendo que tinha despoluído a Lagoa, sem citar a empresa que já havia investido milhões no projeto. Até hoje o cartão postal da cidade continua poluído.
Enquanto isso, no mundo real, as empresas X multiplicam passivos ambientais. São mais de 30 inquéritos e ações públicas espalhadas por nove estados. A maior parte dos processos relacionada com licenciamento e impactos ao meio ambiente. Em fevereiro, a OSX, do ramo de indústria naval, foi multada em R$ 1,3 milhão pelo governo do Rio. O motivo foi o alto índice de sal na água de um canal do Porto Açu, o que prejudicava os agricultores da região.
É claro que uma empresa que atua com negócios potencialmente “sujos” em termos ambientais precisa conviver com isso. São mineradoras, exploração de petróleo, estaleiros, navios, usinas térmicas a carvão. A pegada ambiental é altíssima. Mas esse número não é conhecido, se é que algum dia foi medido. Essa sim seria uma ação típica de um negócio sustentável. Medir os impactos ambientais, divulgar para a comunidade sem meias palavras e mostrar o que pretende fazer para reduzi-los ao longo do tempo.
Essa omissão, no entanto, não é um privilégio da EBX. Nove em cada dez empresas tratam a sustentabilidade como ameaça ou custo. Os especialistas costumam dividir as empresas em quatro grupos. As reativas, que só fazem alguma coisa após serem multadas. As adequadas, que seguem basicamente o que manda a lei. As oportunistas, que cumprem a lei, possuem relatórios de sustentabilidade e tentam melhorar a imagem. Por fim existem as inovadoras ou transformadoras.
Um estudo recente feito pela Universidade de Harvard, nos EUA, mostrou que este último grupo, das empresas realmente sustentáveis, em 20 anos conseguiu ter uma valorização do patrimônio até 30% maior que as demais. Mesmo nos tempos de vacas magras, como estes que afligem o planeta de um modo geral e os negócios de Eike Batista em particular. Uma questão de coerência.
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